Dengue
Vigilância vai notificar donos de terrenos com focos do mosquito em Pelotas
Obra inacabada no prolongamento da avenida Bento Gonçalves tem água parada que chega a ter cardumes de pequenos peixes
Com três focos de mosquito detectados e dois casos de dengue importada confirmados em Pelotas, a prefeitura tenta manter a população em alerta no combate ao vetor que transmite dengue, zika e chikungunya.
Evitar armadilhas que possam abrigar larvas do Aedes aegypti é o foco principal da ação que realizou nesta segunda-feira (29) um mutirão na rua Almirante Guilhobel, atrás da rodoviária, no bairro Fragata, onde um foco foi encontrado. Os moradores dizem que tentam fazer sua parte e reclamam do "descaso" das vias públicas. São dezenas de denúncias que chegam pelo whatsApp de locais com água parada e limpa, valetas e terrenos transformados em lixões, cuja repressão a esse ato cabe ao município.
A reportagem foi em busca de alguns locais enviados pelo aplicativo e encontrou mais do que valetas sujas. No prolongamento da avenida Bento Gonçalves há um verdadeiro piscinão. A estrutura por anos empobrece o cenário da cidade: é um paliteiro de concreto cinza, abandonado e com muita água parada. O térreo é habitado por cardumes, caramujos e um pequeno jardim - sem a assinatura do paisagista responsável.
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A água não chega a preocupar o "guardião voluntário do local", o desempregado Paulo Jesus Ávila Matias, 54, que mora nas imediações. "Estou sempre verificando [a água]. Ela é até limpinha e sem larvas. Quando aparecer, eu serei o primeiro a avisar as autoridades", garante. Mas sua tranquilidade pode estar em xeque. A população passou a depositar lixo no terreno ao lado da estrutura. Entre latões de tintas, extintor de incêndio, capacete, sapatos, sacos plástico e papelão, a reportagem encontrou um pneu de trator com água acumulada dentro. Prato cheio para o vetor.
O diretor de Vigilância em Saúde, Franklin Souza Neto, diz que está ciente da situação. Por meio da Secretaria de Mobilidade Urbana, prometeu notificar o proprietário: "Ali a água não tem por onde escoar e fica parada, podendo ser um possível criadouro de mosquito."
O mesmo ocorre em construção abandonada na rua Marcílio Dias, entre Sete de Setembro e General Neto, centro de Pelotas. A área onde seria o prédio do Setor de Hemodiálise da Santa Casa serve de depósito de entulhos de obras e também de lar para moradores de rua. A informação é do vizinho ao lado. Ele, que não quis se identificar, garante que a grama alta atrai mosquitos. Franklin diz que vai tomar a mesma medida a ser adotada em relação ao paliteiro da Bento: notificação. "O grande problema é quando encontramos o terreno fechado e não podemos entrar", queixa-se.
Já a Secretaria de Serviços Urbanos responde às cobranças da população por meio de números. De acordo com o titular da pasta, Luiz van der Laan, em 2015 foram retiradas 3.461 cargas (caçambas) de entulhos, como material de construção e galhos. Somente em abertura de valetas foram 24 quilômetros e outros dois mil de limpeza de valas. "A situação pode melhorar quando o Ecoponto for inaugurado. Mas enquanto isso nós precisamos da ajuda da comunidade", apela. Para o secretário, que hoje conta com 420 operários no setor de limpeza, mesmo que fossem mil seria insuficiente para manter as ruas em dia se cada um não fizer sua parte. "A limpeza é de responsabilidade de todos nós."
O lixo ainda mora ao lado
Entre as caçambas de entulhos já retiradas das ruas este ano, cinco foram em um terreno particular na rua Francisco Brochado da Rocha, próximo à avenida Domingos de Almeida, Areal. Há mais de um mês a reportagem esteve no local e encontrou um verdadeiro lixão a céu aberto. Depois de 12 anos de reclamações, o aposentado José Antônio Campos Maffi tem a vista mais limpa em frente de sua casa. Mas ainda no terreno, onde tem uma casa abandonada, há água parada em potes que podem servir de criadouro de mosquitos. O imóvel permanece fechado com entulhos até o teto.
Mosquito na valeta pode?
Do outro lado da cidade, na avenida Dom Pedro I com a rua Durval Nunes Penny, Fragata, um morador disse que gastou litros de água sanitária na valeta, temendo que ali pudesse ser criadouro do vetor. Uma equipe da prefeitura esteve no local para roçagem e limpeza. "Aí me disseram que só tem larva em água limpa. Então eu parei de colocar o produto." O titular da Vigilância Sanitária confirma: "Aedes não se reproduz em valeta. Ele se desenvolve em água limpa e parada." A informação, no entanto, não convenceu Tânia Campelo, moradora da rua Irmão Gabino, Guabiroba, bairro Fragata.
Desconfiança que faz sentido para o professor de Meio Ambiente do curso de Ecologia da UCPel, José Antônio Weykamp da Cruz. Ele diz que para a comunidade científica não há certeza absoluta de que o mosquito não se reproduz em valeta. Se o mosquito tiver como respirar na superfície, diz o professor, ele vai se reproduzir. "A água da valeta, nem sempre é a do esgoto." Pesquisas recentes feitas no Nordeste encontraram foco do mosquito em água de esgoto.
Mais um
O segundo caso de dengue importada em Pelotas é de um morador que esteve nos estados de Alagoas e Ceará. O primeiro caso foi o de um homem que contraiu dengue durante viagem a Goiás e Minas Gerais.
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